Fernando e Raquel tinham uma excêntrica admiração por espelhos. Ninguém entedia a valorização que eles davam àquele simples objeto refletor de imagens e o porquê daquela estranha mania.
Nem mesmo a família do casal compreendia porque a casa em que moravam era toda decorada com espelhos.
A obsessão por espelhos iniciara-se há muitos anos atrás. Quando ainda eram jovens, costumavam freqüentar um barzinho no centro da cidade que era famoso por sua decoração inusitada. As paredes do ambiente interno eram todas revertidas com espelhos. E numa dessas ocasiões encantaram-se um pelo reflexo um do outro. O espelho havia servido de guia para os seus olhares naquela noite. Fora o intermediário, apresentando – os um ao outro. Depois daquele dia, saíram, namoraram alguns meses e logo depois casaram.
Resolveram, então, fazer de sua casa uma recriação daquele espaço. Quartos, sala e banheiro, tudo rememorava o dia daquele gracioso encontro.
Com o passar do tempo, aquele objeto que antes tinha tanta significação para aquele casal transformara-se em uma maldição. A imagem da felicidade convertera-se na expressão do sofrimento.
A cada dia que via um espelho esfacelar-se era sinal de que seu casamento estava minando.